quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Relato de amamentação

Antes tarde do que nunca...
Atenção, post longo.

Clara já tem 11 meses e me dei conta que até hoje eu não tinha feito nem o relato do parto nem da amamentação. Resolvi então começar a corrigir essa falha, pois um dos objetivos do Blog é justamente compartilhar as experiências no universo materno.

Clara nasceu de cesariana, as 7:30 da manhã, na posição pélvica (sentada), com ótimo peso (3,240) e super saudável. A obstetra acenou com a possibilidade de que ela nascesse mais molinha por estar sentada, e talvez tivesse nota mais baixa no Apgar, mas isso não aconteceu, ela demorou um pouquinho para chorar, mas logo chorou e as notas foram 9 e 10. Trouxeram-na pra eu ver e depois levaram para fazer os procedimentos normais. Logo depois ela voltou embrulhadinha e colocaram perto do meu rosto, fiquei conversando e ela me olhando toda quietinha, sem chorar, a coisa mais linda e emocionante desse mundo.

Depois fui pra sala de recuperação e lá levaram a Clara para mamar pela primeira vez. Ela pegou o peito um pouco, mas não estava interessada em mamar, só queria dormir, então voltou para o berçário. Quando fui para o quarto ela desceu e ficou o resto do tempo conosco. Durante o dia colocamos a Clara para mamar várias vezes mas ela só queria dormir. Só no final do dia ela resolveu mamar, pegou o peito fácil e na posição correta. Mesmo assim comecei a sentir que os mamilos estavam ficando muito sensíveis e pedia ajuda para toda enfermeira e médicas que apareciam no quarto. O engraçado é que todos diziam que se estava machucando é porque ela não estava fazendo a pega corretamente. Aí fazíamos uma demonstração e todas diziam: ah, agora sim, está pegando corretamente! Mas era sempre do mesmo jeito, desde o inicio. O peito estava se ferindo simplesmente porque não estava acostumado com aquele atrito, é uma área sensível e ponto. Mas todas as profissionais insistiam em dizer que alguma coisa estava errada.

Clara mamava e parecia sempre satisfeita, bastava um peito e ela ficava tranqüila. No segundo dia reparamos que ela ficou o dia todo sem fazer xixi e relatamos para a enfermeira, que foi atrás da pediatra, que passou Nan. Deram então duas vezes no copinho, mas como ela estava mamando bem não deixei darem mais.

Fui pra casa e ela continuou mamando e se satisfazendo rápido. Ela sempre mamava por pouco tempo, cerca de 10 minutos e parava. Essa questão do tempo sempre me deixou muito na duvida se ela estaria mamando o suficiente em tão pouco tempo. Além disso meus seios ficaram muito rachados e eu sofri muuuuito. Colocava a Clara para mamar e me contorcia de dor, mas eu insistia porque acreditava que logo ia passar, que o “couro ia engrossar”. Como ela parecia satisfeita eu resistia.

Até uns 8 dias ela foi um bebe tranqüilo. Começou então a ter crises prolongadas de choro, deixando a gente desesperado. Nada melhorava, fomos ao primeiro pediatra que dizia que estava tudo bem, que todo bebe chora, etc. Mas eu não conseguia achar normal um bebe chorar por 4 horas seguidas, aquele choro de dor, e comecei uma verdadeira maratona médica.

Desde o início eu reparei que ela ficava incomodada depois de mamar e comecei a suspeitar de refluxo. Minha mãe, que ficou comigo uns dias, e outras pessoas começaram a pressionar para que déssemos mamadeira, todos insistindo que ela estava com fome. Marido, altamente sugestionável e inseguro também começou a achar que era. Até que numa consulta de retorno minha obstetra sugeriu que déssemos mesmo o Nan porque ela devia estar chorando de fome. Eu, que nessas alturas era um poço de duvidas e não tinha o apoio de ninguém, resolvi testar e dei a primeira mamadeira com Nan. O resultado foi um monte de vomito e uma bebe que continuava chorando pra caramba. Não dei mais a mamadeira e consegui provar para a minha mãe e marido que não era fome o problema.

A choradeira continuava e a maratona médica também. Nisso eu já achava mesmo que o problema era refluxo e um dos pediatras que fomos pediu exames e começou a tratar o problema como refluxo. Não era aquele refluxo mais comum, que a criança vomita um monte, ela golfava pouco, mas ficava muito incomodada. O pior é que ela não estava ganhando peso.

Apesar de estar sendo medicada, os primeiros meses foram muito estressantes, pois Clara continuava sem ganhar peso, ficou magrinha, e ainda chorava bastante. O pediatra passou um complemento com leite especifico para refluxo, e quando demos a primeira vez ela passou muito mal. Aí sim vomitou muito e ficou alguns dias bastante incomodada.

Fomos a uma outra pediatra (eu disse que foi uma maratona médica) e verificamos que Clara estava muito abaixo do peso, já tinha chegado na parte vermelha do cartão e então ela passou leite de soja para complementar a alimentação dela e nos mandou ir a uma gastropediatra. O leite de soja também fez muito mal à Clara. Foi dar uma mamadeira para 4 dias passando mal com a barriguinha inchada cheia de gases e chorando de dor.

Nessa ocasião Clara já tinha 2 meses, e finalmente chegou o dia da consulta com um pediatra indicado por uma prima cuja filha também sofreu muito com refluxo, e que foi o nosso salvador. Esse médico examinou nossa filhota detalhadamente, disse que realmente ela precisava de complemento pois estava muito abaixo do peso, apesar de estar mamando no peito normalmente. Ele então receitou um leite a base de aminoácidos, caríssimo, mas explicou que ela mamaria pouco e que portando não seria tanto problema. Disse que nesse leite as proteínas são pré-digeridas e que o organismo não tem trabalho para digerir, apenas absorve as calorias (acho que é mais ou menos isso). Mandou dar pequenas quantidades, 3 ou 4 vezes por dia, e continuar com a amamentação. Pediu também exames para ver se não tinha nenhum outro problema e nada foi constatado.

Depois de começarmos com esse leite, 60ml 3x por dia, Clara começou a se desenvolver e ganhar peso. Ela não teve reação ao leite e nem ameaçou parar de mamar no peito. Sempre usamos mamadeira normal, chegamos até cogitar usar aquelas sondinhas junto ao bico do peito, para evitar que ela desmamasse precocemente, mas não me acertei com elas, achei pouco prático e logo abandonei. A sugestão do médico era dar o peito e depois dar a mamadeira, mas quando ela mamava demais ficava se sentindo mal por causa do refluxo e passei a dar a mamadeira primeiro, já que era pouca quantidade, e depois o peito pra complementar aquela mamada. Dávamos a mamadeira só 3 vezes por dia e depois de um tempo só 2x por dia.

Finalmente minha filhota ganhou o peso necessário, entrou na curva de crescimento e daí pra frente foi só felicidade. Depois de um tempo Clara teve uma diarréia estranha e o médico suspendeu os remédios do refluxo e como não fez nenhuma diferença não voltamos a dar. Aos poucos fui passando a dar a mamadeira só uma vez antes de dormir, ainda em pequenas quantidades e depois de um tempo acabei parando de dar, já que ela comia muito bem e continua mamando no peito até demais.

Ficamos todos super satisfeitos com o desenvolvimento da Clara, o investimento nessas poucas latas de leite especial consumidas (1 lata durava quase 1 mês) foi a melhor saída. Clara nunca rejeitou o peito, pelo contrário, adora mamar, inclusive com a barriga super cheia, depois das refeições. Ela também gosta de mamadeira, basta mostrar que ela quer, mas hoje em dia raramente damos. O pediatra mandou que começássemos a testar o leite normal a partir dos 9 meses, mas até agora, aos 11 meses ainda não fiz o teste, mas em breve farei.

Enfim, esta foi minha experiência de amamentação, cheia de percalços e inseguranças. Assim como muita gente, quase não tive apoio, pois as pessoas da nossa família estão acostumadas a dar logo complemento e diante de qualquer problema logo começavam a dizer que a Clara estava com fome, ainda mais por ela estar magrinha. Por algum motivo oculto, apesar de todos dizerem que não existe leite fraco nem pouco, o meu leite sozinho não foi capaz de promover o desenvolvimento pleno da minha filha, precisamos complementar, mas uma coisa não excluiu a outra e até hoje com quase 1 ano ela adora mamar no peito, de forma que já preocupo com a chegada da hora de desmamar.

6 comentários:

Paloma Varón disse...

Kelly, que bom que ela não desmamou! Eu também tive vários percalços coma Ciça, ams, como introduzi a mamadeira muito cedo, ela desmamou rapidinho. Acho que o que fez diferença foi vc ter introduzido depois dos 2 meses.
Beijos

Fabiana disse...

Vendo Clara hoje tão linda, andando, super desenvolvida e esperta me emociona lembrar desses momentos que acompanhei aqui pelo seu blog.

Graças a Deus hoje tudo está bem e esses momentos ruins ficaram só na história dessa lindona.

Bjokas.

Fernanda disse...

Kelly parabéns,você realmente foi uma guerreira em não dar ouvidos pras pessoas que acham que estão ajudando, mas na verdade só atrapalham, muito bacana você ainda amamentar, parabéns por ter passado por tudo isso e ainda sim amamentar sua filhota.
PS:Ah tem selinho pra você lá no meu blog.
bjinhusss

Dayane Cavalcante disse...

Realmente você foi uma guerreira, deve ser uma barra passar por tanta coisa com um bebê tão novinho!Bjim!

Lia disse...

Kelly, adorei o seu relato. Muito encorajador. Vocês estão de parabéns!!

Kellen Mahy disse...

Kelly,
gostei de ler seu relato.. vc deve ter passado por momentos bem estressantes! E mãe é mãe não é a toa.... tem sempre um sentimento inesplicável que diz o que nosso filho pode ter...
É muito ruim escutar pessoas dizendo: '' é fome.. '' e a gente saber que não é nada!
Todos dizem que quando a criança pega mamadeira, não quer mais o peito, por ser mais fácil a mamadeira... sou fonoaudióloga e na minha prática, não tenho visto isso, pelo contrário! Crianças que tem a pega correta e mamam no peito, não desmamam com facilidade até porque o peito serve, ás vezes, como um consolo, um chamego! Está acontecendo isso comigo... estou tentando desmamar o Davi e não consigo!!!
parabéns!!!
Abraços